Clínica Citera & Dr. Carlos Leão

A Clínica Citera têm a honra de postar uma matéria do Dr. Carlos Leão sobre o Risco de Transplante Capilar com profissionais não-treinados.

Link da matéria: http://domtotal.com/…/1308669/2018/11/um-alerta-aos-carecas/

Por Carlos Eduardo Leão

Vamos e convenhamos, mas essa máxima de que “é dos carecas que elas gostam mais” é história pra boi dormir. Mesmo porque o letrista da famosa marchinha carnavalesca, “Nós, os carecas”, Roberto Roberti, era calvo, portanto muito “suspeito” na afirmativa.

Vejam vocês que o problema remonta a história antiga. Cleópatra, a belíssima rainha do Egito, achava tempo para preparar poções à base de urina da charmosa serpente Naja, muito comum naquelas paradas, que se misturava com algas nativas, formando um guisado que ela, toda noite, aplicava nas áreas calvas do imperador romano Marco Antônio, seu grande amor, numa tentativa de revitalizar seus parcos cabelos. Pelo que veem, o trauma existe desde que o mundo é mundo.

Pois é, meus amigos. Esse problema que incomoda tanto os homens, e também mulheres em menor proporção, é o responsável pela restauração capilar ter tomado proporções geométricas em todo o mundo, sendo um dos mais requisitado procedimentos cirúrgicos da atualidade.

No Brasil, este procedimento é campo de atuação de cirurgiões plásticos e dermatologistas com formação cirúrgica, organizados, preparados, treinados e reunidos na Associação Brasileira de Cirurgia da Restauração Capilar, ABCRC e na sua correspondente internacional, ISHRS, hoje duas das mais respeitadas entidades científicas do mundo e guardiãs do ensino, reciclagem, treinamento e evolução das modernas terapias clínicas e cirúrgicas da especialidade.

Logo após o advento do FUE (do inglês “excisão de unidades foliculares”), uma tática de retirada de cabelos que necessita de pequenas incisões circulares, difusas e múltiplas o conceito da cirurgia da restauração capilar mudou imensamente entre a população leiga, mundo afora. Embora seja apenas mais uma ótima opção para nós especialistas, o FUE, que também tem seu lugar garantido na restauração capilar, está longe de ser o que se propaga a seu respeito. Anúncios mentirosos, irresponsáveis, iludindo a fé pública com promessas de “técnica sem corte, sem cicatriz e sem dor” e na realidade tem corte, tem cicatriz e tem dor, invadem as mídias sociais, sites, outdoors, jornais e revistas de bordo de variadas companhias aéreas internacionais, na tentativa de atrair pacientes com inverdades explícitas. Além de tecerem loas ao “novo e moderno” procedimento e, na verdade, é o mais antigo, denigrem o tradicionalíssimo FUT(do inglês, “transplante de unidades foliculares”), como obsoleto, agressivo e “démodé”, onde um nefasto apelo comercial está veladamente implícito nesse total desserviço à medicina séria.

Por ser pretensamente de execução simples e, na realidade, não é, o FUE, difícil e muito técnico, é hoje executado de qualquer maneira por profissionais médicos não capacitados e, muito pior, em profusão por outros profissionais não médicos que, por militarem na área da saúde, acham-se capacitados para tal. Além disso, propagandas de Clínicas Especializadas do exterior, principalmente da Europa e Ásia, invadem as mídias sociais brasileiras oferencendo seus serviços a preços impressionantemente baixos, num “all inclusive” de quatro dias com passagem, estadia, traslados e cirurgia.

O jornal americano Daily News, em sua versão “on line” de 07/11/2015, estampou o título de capa “Transplante Capilar na Turquia é Negócio de 1 bilhão”. Reporta no texto que somente na capital, Istambul, o mais popular destino dos incautos carecas, há 350 clínicas especializadas em transplante capilar, somente pela técnica FUE, que operam 5 mil pacientes/mês, vindos de todas as partes do mundo, atraídos por preços até dez vezes menores que em seus países de origem. Esse negócio chega a 1 bilhão de dólares por ano.

As imagens dessas Clínicas que nos chegam através de sites internacionais, chocam. Dezenas de pacientes em um só recinto sendo operados na maioria das vezes por profissionais técnicos não médicos, sabe-se lá em que condições de assepsia e antissepsia e cuidados pré e pós operatórios, estão totalmente desassistidos no regresso aos seus países de origem. Qualquer paciente que se submete a um procedimento cirúrgico está susceptível às mais diversas complicações inerentes ao ato. O que temos visto em nossas Clínicas, Brasil afora, chama à atenção para as infecções locais, necroses, impiedosas rarefações capilares da área doadora, além dos resultados muito aquém do esperado e prometido.

A coisa está feia. Medicina é coisa séria, gente! Fica esse alerta já que este assunto não demora a se transformar num grave problema de saúde pública com ramificações internacionais. Há muito a medicina vem se tornando cada vez mais especializada, não sendo diferente para aqueles que padecem com os transtornos das doenças e/ou da falta do cabelo. Aos que me leem, fica o conselho de quem está há 37 anos na estrada: em qualquer ramo da medicina, procure um especialista e atentem para a profunda máxima popular que diz “cada macaco em seu galho”.

PS: Para maiores informações visitem os sites: www.abcrc.com.br e www.ishrs.com 

*Carlos Eduardo Leão é médico e cronista